Jornalismo político: transparência e Investigação

Texto por Wesley Menezes e Thaynara Cunha Edição por Gabriela Macêdo

Disputas, alianças e conflitos fazem da política um campo fértil à prática jornalística. Dessa forma, a atuação da imprensa como mediadora entre a sociedade e os poderes não poderia ficar de fora do treinamento do projeto Politizar. Na quarta edição do projeto, Jornalismo Político: Transparência e Investigação, foi a pauta da mesa redonda realizada no dia 4 de maio. A mesa contou com a participação da repórter Amanda Audi, do The Intercept Brasil, Fabiana Pulcineli, repórter e colunista do jornal O Popular e CBN, e Ma. Cileide Alves, jornalista e apresentadora na Rádio Sagres 730. Gabriela Macêdo, Coordenadora de Comunicação do Politizar, foi responsável pela mediação da mesma. Em resumo, as discussões foram alternadas por relatos e experiências pessoais das jornalistas e dicas práticas para os participantes da simulação.

 

Desconfiança e apuração

O principal compromisso do jornalismo é com a verdade. Assim, trabalha com a apuração da informação para apresentar um relato verídico dos acontecimentos que interessam a sociedade. Essa verificação acontece por meio de pesquisas, onde o jornalista se dirige ao local do acontecimento, busca documentos, confere dados com as fontes e verifica tais informações estão corretas. Todas essas tarefas são cruciais para a produção de uma matéria jornalística que tenha o mínimo de erros, a maior qualidade possível e evite a propagação de mentiras.

Essas informações podem ser obtidas de duas maneiras principais. Primeiramente, é possível acessar os dados diretamente dos portais da transparência. Além disso, pode-se realizar uma consulta às fontes, que são pessoas detentoras de certas informações e que estão dispostas a divulgá-la. No Jornalismo Político, as fontes são geralmente operadores políticos que estão na linha de frente ou nos bastidores da política. O processo, no entanto, não é tão simples. A relação ‘jornalista – fonte’ é um terreno cheio de armadilhas e que requer diversos cuidados e atenção.

De modo geral, essa relação pode ser cooperativa, quando a convivência entre esses dois agentes é natural, mesmo com as eventuais tensões do ambiente político. Apesar de complexa, quanto mais neutra for a relação entre o profissional e suas fontes de informação, maior a isenção a ser alcançada nos discursos das matérias jornalísticas.

“A isenção não existe. Por outro lado, não buscar a isenção é o maior defeito”, afirma Amanda. A repórter do The Intercept ainda forneceu algumas dicas para quem deseja se aventurar no caminho do Jornalismo Político. Em resumo, foi explicado que quando uma fonte desejar divulgar alguma informação, o ideal é que ela procure um jornalista que vá tratar com o máximo de neutralidade possível o que ela tem a informar. Essa neutralidade é possível quando se entende a intencionalidade de cada um dos grupos políticos. Entender, sem se envolver e sem deixar a paixão direcionar as ideias de forma enviesada.

Já Fabiana acredita ser primordial desconfiar de cada informação que recebe. “Desconfie demais, o que eles querem esconder é o que realmente interessa”, expõe a jornalista que há quase 20 anos tem permeado o meio político em Goiás. Também complementa que diante desses processos e jogos de interesses, há uma prática muito utilizada pelo bom jornalismo, mas também muito perigosa, o ‘off’. Segundo a Jornalista Eliane Catanhedê, no livro ‘Jornalismo Político: Teoria, História e Técnicas’, “o off é como a democracia, cheia de defeitos e riscos, mas ainda não inventaram nada melhor”. Em suma, o off trata de informações dita em reserva, ou seja, que a fonte não deseja que sejam reveladas, ou que a própria fonte não deseja ser identificada como relatora das mesmas. Entretanto, é exatamente nesse momento em que se têm os melhores furos, as melhores informações, os melhores documentos. Mas como já alertado, sempre será necessário chegar os dados obtidos.

A relação “jornalista-fonte” tem suas arapucas e uma delas é o chamado “Wishful Thinking”. Essa expressão que se consiste em um pensamento excessivamente desejoso por parte da fonte. Isso acontece quando a pessoa entrevistada quer tanto que algo aconteça que trata informações sem checagem, obtidas de forma duvidosa, como fato verídicos, e oferece a informação ao jornalista.

 

Jornalismo de qualidade

Um jornalismo sério, plural e que busca a imparcialidade garante a sustentabilidade da democracia, de modo a auxiliar o cidadão quanto ao acesso das informações com o máximo de isenção e neutralidade. Além disso, para a produção de um efetivo jornalismo político de qualidade, é necessário que este seja produzido por jornalistas de qualidade. A profissão do jornalista, contudo, se consiste em um processo contínuo de aprendizagem e busca por melhorias.

Durante a mesa da 4ª edição do Projeto Politizar, as três profissionais pontuaram como principais dicas a leitura e a busca pela isenção. Em consenso, as jornalistas concluem que para qualquer boa prática jornalística é necessário conhecimento amplo de mundo que só se adquire com a vivência e com a leitura. Dessa forma, nada melhor que a leitura de jornais ou Diários Oficiais de órgão públicos acompanhar na prática os acontecimentos e se inteirar da situação atual no âmbito político do país e do mundo. Ainda, já que qualquer texto é sujeito a estar contaminado pelas visões de mundo de quem o escreve, quando se pratica jornalismo, deve-se buscar a neutralidade ao máximo, intencionado sempre informar o leitor.

 

Transparência

Fabiana Pulcineli diariamente utiliza os portais da transparência, que, basicamente, são sites que fornecem informações sobre a administração pública estadual e federal. Entretanto, apesar de pouco divulgado, não só a imprensa, mas todos os cidadãos têm o direito garantido de acesso a esses documentos. Essa possibilidade de acesso se tornou possível através da Lei da transparência, regulamentada em 2011, que obriga a união, os estados e municípios a prestarem contas com a população em tempo real.

Para a felicidade dos jornalistas, também existe a Lei de acesso à informação, que entrou em vigor em 2012, e cria mecanismos que possibilitam ao profissional o recebimento de informações pública de órgãos e entidades. No entanto, Fabiana lembra que esses dados só saem do papel se o comunicador realmente as consultar e as utilizar. Caso as informações necessárias não estejam disponibilizadas ou atualizadas nos portais, a lei estabelece um prazo para que os órgãos públicos forneçam algum parecer. Caso este não responda, se faz preciso entrar com recurso. De acordo com a repórter do O Popular, ações como essas são necessárias e reforçam ainda mais a democracia, no que tange ao acesso das informações sobre o que realmente acontece por trás das câmeras na política brasileira.

 

Portais da transparência

Portal da transparência da União: www.portaltransparencia.gov.br/

Portal da transparência do Estado de Goiás: http://diariooficial.abc.go.gov.br/

Portal da transparência da Alego: https://transparencia.al.go.leg.br/

Portal da transparência da Câmara federal: www.camara.leg.br/transparencia/

Portal da transparência da Câmara municipal de Goiânia: www.goiania.go.leg.br/transparencia

A Associação brasileira de jornalismo investigativo (Abraji) também tem disponibilizado em seu site várias listas com portais da transparência e meios de investigação. Aos interessados, vale a pesquisa site para se descobrir as inúmeras possibilidades de investigação: www.abraji.org.br/

 

 

Local do Evento

Palácio Maguito Vilela – Avenida Emival Bueno, Quadra G, Lote 01, Park Lozandes. Goiânia – Goiás.

Realização:

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